terça-feira, 27 de novembro de 2007


eu acredito no amor


desde sempre tentam desumanizar,
desde sempre
(ou ao menos desde
a minha existência
e a tua).
durante tempos e tempos
enxerguei nada,
achando tudo ver.

desde sempre tentam automatizar,
desde sempre
(será assim pela existência
dos nossos filhos).
durante tempos e instantes
falei muito,
e nada disse.

chega agora o tempo da ação
sem medos,
da ação eficaz.

e eu com prazer
vou voltando a acreditar
no amor

e no amar.

sábado, 24 de novembro de 2007


os passos vazios
o tempo perdido
a aurora desencantada
a vertigem desarvorada
nem um minuto a mais
ou a menos
pelo meio
ou pelas bordas
estudo
o pré-anúncio
desta incerteza
concreta
para ver estes erros
que se anunciam
sem espelhos
como molduras
este interesse
a mudança
destas horas
destes instantes
o dormir exausto
o descansar do corpo
ver uma bigorna
sobre a cabeça
surrupiar sem moral
o rangido das portas
abertas
no cérebro em tensão
então, enfim
as rusgas do agora
decepam inconstantes
estas estrofes descabidas
e o poema se descansa
à espera d'outro surto


a certeza
longe
perto
o movimento
rápido
lento
o susto
a penumbra
o delírio
o sorriso

sexta-feira, 23 de novembro de 2007


dormência...

...que não vem,
que não chega,
que eu persigo,
que é tão meiga;

...que me leva ao infinito,
que me acorda na manhã,
que me empurra pro trabalho,
que leva jeito de artesã;

...que aos trancos e barrancos
me acredita
(que na luta dessa vida
só faz desanuviar);

...que devora sem receio a minha carne
e transforma em desejo
minha cara de queijo
(que inflama os ratos);

...que eu seguro com as mãos rápidas
no teclado donde os sons
estão apagados
(a queda inevitável);

...que estufa nas redes mais um gol,
que comemora feito realidade,
que insiste na jovialidade
da imagem velha do espelho;

...que brinca com os segundos,
que trava os minutos
(aconchega as horas
no delírio);

...que anuncia e não incentiva
(a máquina do progresso não deixa -
as fossas entupidas
e a morte na enchente);

...que surge e ressurge
(e a neve não cai -
e não serviu de nada
a noite estufada).

quinta-feira, 15 de novembro de 2007


surtou com o amor
de verdade.
chegara a pensar até
"isso não existe".
ô, se existe...
quando vem assim
no ouvido
(com cheiro de prazer
na confissão),
renova o fôlego
pra caminhada em busca
da liberdade.
o tremor das pernas,
o arrepio na espinha,
o susto,
o golpe bem no coração
(o metafórico).
O rodopiar da cabeça,
o não saber o que fazer,
o caminhar falando sozinho,
as ruas eternas ruas
com os passantes eternos
(que daqui a pouco
os carros voam),
os restos do olhar,
aquele de sempre,
com um sussurro
desmoronador...
madrugada errante...
cheia de surpresas
cheia de desastres
cheia dos enfeites
cheia de poesia
cheia de sonoridades
cheia de não se caber
dentro de si
e resolver mergulhar
no estrebuchado da esquina
onde o pavio é curto.
passagem pra casa só um real
prefere ajudar o cobrador
e o motorista
que o chefe deles,
o safardana
que cobra de idoso
e de estudante,
mancomunado
com o que há de pior
em termos de falta de ética, caráter
e principalmente,
humanidade.
só pensam na merda do dinheiro.

surtou com o amor
de verdade.
quase robotizado,
a frase derrubou o muro
(em fase de finalização)
que era levantado por sobre
as suas vontades,
as suas sensibilidades,
o sapato inútil
criando bolhas inúteis,
a camisa de gola
com o cavalo bordado
no bolso,
a meia imunda furada
de quatro anos,
a gente de cara amarrada
com o pescoço amarrado
e o salto alto
e o corpo cambaleante
e o cuidado
e o nojo
e esse nhémnhémnhém
e esse blábláblá
que também é meu
e é seu e é nosso.

mas pra alguns tá bom.

vinha sendo vencido
por pouco,
por muito pouco.

reanimou


as coisas que acontecem

as coisas que se apagam
as coisas que se esquece
as coisas que se persegue
as coisas que martelam a cabeça
esqueça
talvez ninguém mereça
se nem ao menos alguém
tem o direito de tentar
e ele que sempre esperou
de sua visão pseudo-eqüina
distância segura da carnificina
se vê agora
a precisar
de mais ação