sexta-feira, 6 de novembro de 2009



o camarada acordou cedo e separou a roupa com a qual sairia alguns instantes mais tarde para mais um dia de caminhada.
a moça dormiu cedo naquela manhã para acordar quando desse na telha.
o camarada foi até a janela de casa, apurou a audição para ouvir somente o canto dos canários soltos que teimavam em pousar na aroeira que ficava sempre parada na porta da sua casa. parecia que seria um bom dia. a água pro café já borbulhava na leiteira.
a moça escovou os dentes, olhou suas olheiras no espelho. pensou no camarada, pensou em quando se daria aquele encontro já tão esperado. sabia que a coragem e o medo caminham juntos. não sabia qual dos dois levaria adiante.
um cachorro leproso lambia os restos de acém jogados na porta do açougue onde o camarada não mais comprava carne. o dono fumava um cigarro enquanto cortava peças de picanha em bifes suculentos. moscas e baratas, possíveis de serem vistos, enfeitavam o ambiente. as sombras do dia eram o engano da nuvem naquela tarde sensível.
a moça sorriu pra si mesma, beijou o espelho e viu o rosto do camarada por cima do seu. começou a ter a sensação de estar enlouquecendo. foi até a cozinha, abriu a geladeira e procurou o quiabo cozido da noite anterior. quando abriu a panela esquecida, fungos já tomavam conta do alimento. ela não percebera, mas não comia há dias.
o camarada saiu para o trabalho, mas antes regou a horta e cortou as folhas amareladas pela falta de nutrientes.

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